Quando a impotência diante do sofrimento alheio nos assola, a sensação é devastadora. Hoje, durante a Semana da Alegria e Compaixão no judaísmo, me peguei cobrando por não conseguir manter minha vibração elevada após um fim de semana magnífico de jejum. Mas é justamente sobre isso que preciso falar. Como é incrível a experiência espiritual quando você jejua e se entrega ao divino. Foi o que fiz no fim de semana, no Yom Kippur, onde ficamos 26 horas sem água e comida, sentindo a pureza do paraíso em meditações orações. Mas como qualquer conexão assim, ao retornar à matéria, a gente se depara com o vazio. Até quando, Universo, vou ter que continuar lutando para realizar aquele desejo profundo do meu coração? Entrei nessa nóia depois de sentir tanta gratidão. Vocês acham que a espiritual aqui é gratilux?! Longe disso!
Sim, sou professora de bem-estar, mas também tenho minhas sombras. Sou real. Sigo aprendendo e tropeçando, tentando aplicar tudo que ensino. Não se engane achando que sou a única. Todas as pessoas de destaque que conheci em suas áreas também não conseguem viver 100% o que ensinam. O caminho não tem fim, e ele não é linear.
Eram tantas voltas para dizer que hoje deveria ter sido um dia de vibração elevada, mas não foi assim. Na verdade, nunca é. Minhas emoções flutuaram. Chorei. Senti. Acendi velas, rezei e meditei. Voltei a sorrir, me entreguei ao amor e à energia vital. Saí com a sensação de missão cumprida. Acho que a verdadeira felicidade na vida é isso. Nāo se apegar às emoções e ir lidando conforme elas aparecem. Alegre estava novamente.
Então, recebi uma ligação da minha família. Minha sobrinha, que estava há 40 dias na barriga da minha irmã caçula, faleceu horas antes do parto. Doeu. Afundei por alguns instantes. Tive 20 minutos para processar. Liguei para minha irmã, rezei, e então me levantei para a próxima aula, onde eu promovo bem-estar. Na minha impotência, eu não podia ressuscitar minha sobrinha, nem aliviar a dor da minha mãe ao ver sua filha sofrer, nem tirar o choque da minha irmã, cheia de hormônios, leite chegando, e as roupinhas já dobradas no armário.
Respirei fundo. Conectei-me com o meu coração. Visualizei uma máscara de oxigênio energética, enchendo meu coração de luz e amor. E com esse amor, segui para a aula. Foi uma aula leve, entregue, e as alunas saíram renovadas, como merecem. Abracei uma aluna, cujo pai está gravemente doente. Choramos juntas. Compartilhamos amor e afeto, compreendendo nossos papéis e apreciando a vida.
Ao descer as escadas, outra aluna me presenteou com um copo térmico que eu tanto queria, mas nunca mencionei. A alegria voltou rapidamente. Em segundos, tudo mudou. Meu cachorro, Sky, símbolo de alegria na minha vida, mesmo em jejum e com dor de barriga, se levantou animado, iluminando os espaços.
Entendi que a alegria é assim: não é linear. Minha reunião das 19h foi cancelada, e estou aqui escrevendo, retomando meu diário, coisa que fazia na minha infância, e por traumas e invasões de privacidade, parei. Estou de volta organizando meus pensamentos e expondo minha vulnerabilidade.
Continuo, tentando entender o que é ser uma pessoa espiritual no plano físico, o que é ser humana e espiritual ao mesmo tempo. Como cuidar dos outros, mesmo se sentindo impotente? Entendo que só podemos dar o que transborda dentro de nós, e para isso, é preciso nos cuidar todos os dias, para manter o estoque quando as emergências surgem. E cuidar da fé!! Porque sem ela, a gente não aguenta! Ana Beatriz, sobrinha que virou estrelinha. Gratidão por ter passado por nossa família. Te amo muito! E seguimos aqui confiando, rezando e compartilhando o que a bússola interna nos guia.
Com amor e afeto,
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